terça-feira, 11 de junho de 2019

Os opostos atraem-se


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Não conseguíamos tirar os olhos um do outro. A sério... Até parecia que nos conhecíamos de algum outro lugar, ou talvez não. Talvez ele achasse piada ao meu ar de miúda rebelde, com cabelo vermelho a combinar com as botas da tropa, meias de rede e os calções curtinhos de ganga deslavada. Eu sei porque eu não tirava os olhos dele. Tinha ar de ser um pai de família, certinho e atinadinho. As suas roupas betinhas impecavelmente engomadas mostravam um corpo de alguém que não vai ao ginásio. O excesso de peso e a barriguinha redonda não o faziam menos interessante e sensual do que os miúdos Prozis que gostam de se passear com t'shirt de manga cava. Antes pelo contrário!     
De certeza que ele é daqueles homens que depois de um dia de trabalho se senta no sofá e vê filmes franceses ou então aqueles canais eruditos que falam sobre a segunda guerra ou a queda do muro de Berlim. Eu nunca teria conversa para ele. E ele nunca iria perceber o calão que uso ou acharia piada aos Animes que gosto de desenhar no meu bloquinho de papel pardo. Os meus piercings, nas orelhas, nariz e língua, as minhas inúmeras tatuagens deveriam fazer-lhe confusão. Ou talvez não! Até consigo imaginá-lo a bater grandes punhetas enquanto vê filmes com suicide girls.                             
Possivelmente era isso que fazia com que não tirasse os olhos de mim. 20 anos deviam separar-nos e era mesmo isso que me atraia nele. Tinha idade para ser meu pai. 
O bar onde nos encontrávamos era frequentado por todo o tipo de pessoas menos por homens betinhos com pullovers da Gant e relógios Timberland. Isso também me intrigou. O que andaria ele ali a fazer? O que procuraria por ali? Não se podia fumar ali dentro por isso, deixei o meu bloco e estojo na mesa e de mochila ao ombro dirigi-me à varandinha virada para uma das ruas mais movimentadas da baixa lisboeta. Ele acompanhou-me com o olhar. Pervert.      
Parece que gostou das minhas meias! Nesta altura questionei-me sobre o que lhe passava naquela mente. Estaria a pensar que eu parecia uma puta? Ou estaria a querer comer-me já ali nas escadas do bar? Já lá fora e após o primeiro bafo no meu cigarro, vejo-o a abrir a porta metálica e a tirar do bolso das calças um maço de tabaco de uma marca bem mais cara. Adivinhei o que iria fazer a seguir. Dirigiu-se a mim e pediu-me lume. Há muito isqueiro a gabar-se de ter sido a razão de muitos inícios de conversas. Inícios de quecas também. Estava vento e tornou-se difícil o senhor betinho acender o seu cigarro.                                       
Eu já me ria da situação e notei o embaraço de alguém que não está habituado a ser o centro das atenções. Mas agora era. Conversámos durante a tarde toda. Entre cigarros e Coca-Cola. Entre confissões e provocações lá me apercebi que o betinho procurava companhia. Por uma noite ou para a vida. Fiz-lhe companhia por umas horas. Disse-lhe que a minha aparência não era indicador de nada e ele percebeu. Pediu desculpa! Percebeu que se havia enganado. Entendeu que eu não iria dar uma queca com ele em troca de dinheiro ou de uma noite bem passada num hotel luxuoso de 5 estrelas. Eu também entendi a razão da sua solidão.        
Era tímido, inseguro e inexperiente na arte de engatar. Mas eu gostei dele. Os opostos atraem-se. Continuámos a rir, a beber Coca-Cola e a fumar cigarros. Continuei a olhar para ele com vontade de me sentar ao seu colo e dar-lhe um beijo. Ele continuou a comer-me com o olhar. Trocámos contactos e nos meses seguintes não voltámos a estar juntos. Mas ele sabia escrever. Tinha no poder da palavra escrita o que não conseguia transparecer em presença. Ficou a ser o meu amante virtual. O meu fuck buddy via net. Muito sexo fizemos sem nunca nos tocarmos. Eu chamava-lhe Daddy e ele chamava-me miúda. Até que os seus silêncios começaram a ser prolongados.                                          
Deixou de responder aos meus bons-dias. Deixou de me mandar fotos do nascer do sol que via do seu apartamento na Lapa. Não insisti mais, mas tinha saudades dele. Deixei de ser divertida? Deixei de ser novidade? Passei a ser uma miúda chata cujas conversas cheias de calão e ashtags deixaram de fazer sentido? Hoje de manhã tudo passou a fazer sentido quando recebi uma mensagem dele. Depois de ler e reler em voz alta as suas palavras, chorei de emoção. Estava a apaixonar-se por mim e achava que nunca ia ser correspondido, por isso o seu afastamento. As nossas inúmeras conversas também me tinham deixado de coração mole...                             
Afinal ambos queríamos passar das palavras aos atos. Foi nesse dia a nossa primeira queca. O nosso primeiro encontro amoroso com direito a beijos melosos, a mãos curiososas, a gemidos estridentes. Gostávamos um do outro apesar de sermos de mundos opostos e de idades diferentes. Essa foda foi apenas a primeira. Ele era um amante como há poucos. Sabia onde me tocar. Sabia o que me dizer. Lia a minha mente e deixava-me de rastos sempre que estávamos juntos. Mas como é normal, tudo acaba... Seis ou sete meses de quecas quase diárias desgastaram a relação.                              
Acabou a paixão e não havia amor. Nunca seria uma relação "até que a morte nos separe". Foi uma relação "até que a tesão se acabe". 
Hoje ele está casado e com um filho bebé nos braços! Fico feliz por ele, muito feliz mesmo! 

E eu? Eu continuo a desenhar Animes, a beber Coca-Cola e a fumar cigarros de marca barata. Os meus isqueiros continuam a acender cigarros alheios e a serem desculpa para um início de uma boa conversa. Ou de uma boa queca.        

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