quinta-feira, 11 de julho de 2019

Danos colaterais


Coloquei os óculos de visão noturna e ajeitei o capacete. "Vou avançar meu sargento. Cubra-me!" Gritei já de costas para ti, exatamente antes de pular e sair da trincheira que nos protegia do inimigo e iniciar uma das corridas mais difíceis da minha vida. De M4 em riste, dedo no gatilho e com o coração na boca, só pensava que não queria morrer, não nesta guerra... Pelo caminho deserto de vegetação, mas fértil em corpos estropiados e sem vida, lutei pela minha. Tenho a certeza que aviei uns quantos pelo caminho. Não ficava feliz por isso, mas era morrer ou matar. Eu escolhia sempre a segunda opção. O som das rajadas de metralhadora ainda hoje me soam aos ouvidos, sempre que fecho os olhos à noite. Não pelo barulho mas pelo facto de termos perdido imensos camaradas, nesta emboscada mortal. Os gritos humanos de dor eram indescritíveis e torturavam-me os ouvidos numa luta perversa com o som dos tiros que silvavam ao cortar o ar. Éramos muitos. Ficámos tão poucos. Eu continuava a correr. Veloz, com uma imensa adrenalina a correr-me nas veias.
Até que o oxigénio inspirado deixou de ser suficiente e as minhas pernas começaram a fraquejar. "Caralho... Onde está a merda da outra trincheira? “ Pensei ou gritei, nem sei. Naquele momento achei que não me conseguiria salvar. Caí ao chão. Tropecei num corpo. Olhei em volta não se via viv'alma. Tentei levantar-me mas senti náuseas ao reconhecer o corpo em quem tropeçara. Foda-se, pobre miúdo... Levantei-me sem forças, apoiando-me na espingarda mas voltei a cair, de bruços e cara na terra húmida. Ouvi passos, alguém a correr, perto. Os meus olhos foram fechando. Não, não posso morrer... Seria a minha última visão, a cara sem vida daquele miúdo? Perdi os sentidos, mas ainda escutava os passos cada vez mais perto, mais perto... Quando recuperei as forças, abri os olhos e vi o mundo de pernas para o ar. Não percebi logo, mas levavas-me nos ombros, exatamente como tínhamos praticado na recruta, e em passo de corrida. Ouvia os tiros a rasarem os nossos corpos. Irias conseguir proteger e salvar-me? Voltei a fechar os olhos mas desta vez com a certeza que ia tudo ficar bem.    
Nem o desconforto dos constantes abanões ao meu corpo inerte, provocado pela tua corrida em busca de nova barricada, me coibiram de voltar a perder os sentidos. Voltei a recuperá-los já na trincheira, com cerca de dois metros de profundidade e com munições suficientes para nos defendermos até sermos resgatados. Estavas debruçado sobre mim e repetias "soldado, soldado... estamos a salvo. Abra os olhos soldado, é uma ordem". A tua mão batia insistentemente nas minhas faces quando abri os olhos. A visão era quase nula, já não tinha os óculos e o capacete. Não fosse a lua e eu não veria o teu sorriso de alívio por me veres despertar. Agarrei-me ao teu pescoço e puxei-te para mim. "meu sargento... aquilo foi mau, muito mau.... Eles estão mortos. Todos mortos! “ Encetei um choro descontrolado. Eles não voltariam para casa. Solucei. "Meu sargento, o-obrigada! Salvou-me e eu não sei como agradecer! " Ao ouvido sussurraste-me palavras de consolo "Soldado, vai ficar tudo bem! A sua coragem... Soldado... Estou orgulhoso, tão orgulhoso". Afastaste-te ligeiramente para me olhares nos olhos pejados de lágrimas.  
Passaste os polegares nas minhas faces de modo a secá-las e olhámo-nos profundamente durante longos segundos. As lágrimas caiam à mesma, mas os tiros havia cessado. Também nas tuas faces rolaram algumas. Voltaste a abraçar-me. Elevei-me ligeiramente e senti a força do teu abraço que transmitia carinho e paz. Senti-me em casa. Afastei-me ligeiramente, sentei-me da forma mais confortável possível e perguntei-te: "Quanto tempo temos até nos salvarem, meu sargento? “ Sorriste e começaste a tirar a mochila das costas. Encostaste-te a mim e à parede de areia enquanto massajavas os ombros doridos.... "Descanse soldado, eles sabem a nossa localização exata. Até ao amanhecer, seremos resgatados." Descansei a cabeça no teu ombro, coloquei a mão na tua perna, dei-lhe uma palmada ligeira e sorri dizendo "Então temos tempo, meu sargento" Olhaste para mim e perguntaste com um ar curioso "Soldado, não percebi. Temos tempo para quê? “ Com o meu ar de miúda rebelde" apenas respondi "Para isto, meu sargento".      
Num gesto repentino sentei-me em cima de ti, agarrei-te no pescoço e sem demoras mergulhei em ti num beijo profundo e quente. Senti as tuas mãos agarrarem na minha cintura e depois no meu rabo. Ambos precisávamos de paixão e de sentir a euforia, que não fosse associada ao medo e ao pavor de morrer. Ambos precisávamos de amor! E merecíamos! Era a melhor forma de comemorar a vida! Puxavas-me para ti com medo que eu mudasse de ideias. Como se isso fosse possível. O beijo carnal, lascivo e animalesco denunciava o prazer que sentíamos. O meu coração galopava  à velocidade que há pouco usara nas pernas para sobreviver. A fome que tínhamos não era só de comida caseira e quente. A fome de sexo era também já muita e as emoções complexas que não sabíamos controlar levavam-nos a este inevitável desfecho. Com rispidez e ganas de me teres, desapertaste a minha camisa, enquanto eu soltava o meu cabelo longo e escuro. Ias ter-me como uma mulher e não como soldado.    
O top verde  justo ao meu corpo com suor de medo e de adrenalina deixava vislumbrar os mamilos eretos e com vontade de serem tocados. Olhaste para eles, pegaste-me numa mecha de cabelo, passando os dedos por todo o comprimento. Tocaste-me no pescoço, sem pressa, percorrendo depois o contorno da mama até chegares ao mamilo. Apertaste ligeiramente ambos e eu soltei um suspiro de prazer  há muito contido e reprimido. Alcancei o cós do top e tirei-o num gesto rápido e provocador. Fechei os olhos e senti os teus lábios, a tua língua nas minhas maminhas arrebitadas. Por momentos o cenário de guerra que nos rodeava, desvaneceu, evaporou-se e transformou-se num paraíso carnal de prazer. Já não pensávamos, só o instinto geria os nossos movimentos e sensações. Deitaste-me de costas na areia e entre beijos, gemidos e olhares profundos descalçaste-me as botas, despiste-me as calças... Observaste-me com prazer e desejo. Enquanto, de joelhos na areia, desapertavas a camisa, o cinto e as calças disseste" Soldado, que visão maravilhosa estou a ter... És tão bonita! “          
Deixei escapar uma gargalhada e puxei-te para mim. "O meu sargento também não está nada mal!" Deitado sobre mim e apoiado nos antebraços, sorriste e provocaste-me roçando-te em mim. Os nossos sexos tiveram assim o primeiro contacto e enquanto nos beijávamos passeei as minhas mãos pelos teus ombros e costas. Alcancei o teu rabo e forcei-o de modo a sentir-te no meu clitóris que já estava inchado de tanta excitação. Finalmente tirei as cuecas, com a tua ajuda e pedi baixinho "Foda-me, meu sargento!" Antes de o introduzires em mim respondeste "Não costumo aceitar ordens de soldados, mas neste caso é inevitável..." E deixaste-o escorregar dentro de mim. Olhos brilhantes e em permanente contacto, faces sujas mas rosadas e bocas semi-abertas como que a quererem saborear o momento. O primeiro gemido depois da primeira estocada é sempre o mais profundo. Normalmente denuncia a qualidade do momento que se segue. Ambos gememos de prazer intenso e guardado há meses nas nossas gargantas. O tempo que demorámos naquele ato de paixão e de tesão não sei precisar.  Sei precisar que foi o melhor tempo passado naquela guerra desumana. As estocadas fortes foram aumentando à medida que a excitação crescia ainda mais. Continuaste em cima de mim, peito com peito, as minhas pernas enroladas em ti e o contacto permanente dos nossos sexos húmidos. O som do sexo selvagem, do movimento repetitivo do contacto dos dois corpos era, por certo, ouvido fora da nossa barricada protetora, mas nem isso nos passou pela cabeça. Agarraste-me nas mãos, entrelaçámos os dedos e elevaste-me os braços acima da cabeça. O contacto prolongado do meu corpo nu, e agora das mãos, na areia não foi, na altura, um problema, pois os sentidos estavam concentrados nas sensações. A dopamina libertada nos corpos desprezava qualquer outra sensação que não fosse bem-estar e euforia. Numa corrida louca para o orgasmo aceleraste as investidas em mim até atingirmos a felicidade louca e imensurável que é um orgasmo há muito reprimido.De olhos fechados e com as respirações descontroladas, espasmos de prazer invadiram-nos os corpos acompanhados de gemidos e esgares faciais, que em nada são encenados, previstos ou treinados. A natureza assim o impõe.                  De mãos dadas, deitados, lado a lado, de costas no chão que foi testemunha da nossa paixão, sorríamos de felicidade. A droga tem um efeito semelhante ao do orgasmo. Tudo é felicidade, tudo à volta deixa de ter importância e o mundo é cor-de-rosa. Ao longe escutámos o som inconfundível das pás do helicóptero a cortar o ar. Íamos ser resgatadis. O sol estava a nascer e nós estávamos a voltar à realidade da guerra, das mortes, do sofrimento. Mas nunca nos iríamos esquecer daquele nosso momento de paixão, que em cenário de guerra nos deixou em paz e rendidos um ao outro...              










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