sábado, 21 de março de 2020

No hospital ...

Estávamos a 20 de abril e eu aguardava saber os resultados do meu teste para o covid19. Impaciente e estranhamente nervosa revia mentalmente os dias e noites passados ali naquela sala do Hospital de São João no Porto. Foi duro, muito duro! Após 15 dias de internamento estava esperançosa que já estivesse curada e que pudesse regressar a casa ao contrário de muitos dos meus companheiros de quarto, que saíram mas rumaram às suas últimas moradas. 

Era irónico estar a uns dias do 25 de abril, o dia que sempre festejei fervorosamente, no meio de multidões, dando abraços e beijos, bebendo das mesmas garrafas e fumando dos mesmos cigarros dos amigos. Seria agora impensável imaginar as comemorações deste 25 de abril de 2020. Para além de todas as rígidas regras governamentais impostas, todo o país chorava os seus mortos e resguardava-se em casa, temendo o inimigo invisível e mortífero. 

Era irónico lembrar as inúmeras vezes a que assistimos a filmes semelhantes, enquanto mastigávamos ruidosamente as pipocas e tínhamos como certo que tal cenário só acontecia no grande ecrã, fruto das mentes retorcidas dos melhores e mais geniais argumentistas do planeta.  Se ao menos eu tivesse tido os cuidados logo de início. Era algo que eu ia ter de me desculpar, em breve. Iria ter de aceitar que, ter desvalorizado de início este maldito vírus, trouxe-me a esta cama, a este hospital , deixando-me à beira da morte. Mais uma lágrima descia pela minha face, mas era só mais uma de entre as milhares que eu já chorara nestes últimos 15 dias. Deixei que corresse...

Simplesmente não há sequer vontade de festejar a liberdade alcançada há 46 anos, pelos nossos pais e avós. Os milhares de infetados, os milhões de isolados, com ou sem sintomas, as centenas de mortos são números deveras preocupantes, fruto de uma guerra muito diferente da que nos levou ao 25 de abril 1974. Qual será a data de comemoração contra este covid19?  Haverá uma data de liberdade deste vírus invisível mas tão mortal? 
Acredito que sim, mas não faço planos. 

Também não estava nos meus planos ter ficado este tempo todo numa cama de hospital, sem visitas, sem saúde e com um ventilador a ajudar-me a sobreviver. A minha asma e o meu vicio tabágico de muitos anos são os culpados disto tudo e agora só me resta aguardar mais umas horinhas...

Entretanto olho em meu redor, para as outras 19 camas que, todas cheias, já tiveram vários ocupantes todos eles com este bichinho sem escrúpulos e astuto que veio deixar todos os grandes líderes mundiais borrados de medo e penso na sorte que tive. Estava tão envolta nestes meus pensamentos que não te vi chegar: 

_"Alexia, já tenho o teu resultado". - Por trás da máscara consegui vislumbrar o teu sorriso. Os teus olhos brilhavam e sorriam também. Não me consegui conter, soltei uma gargalhada e sentei-me na cama. Sentia-me bem e nos últimos dias já não tinha tido febre nem sintomas e tu tinhas sido uma grande ajuda, fazendo-me sorrir de cada vez que aparecias no quarto, nas tuas fardas verde-água, ou azuis-bebé, muito pouco sensuais mas eficazes na tua proteção. 

_ A serio, Ricardo? E então? São notícias boas, não são? - toda eu pulava por dentro, como uma miúda que abre um presente que pediu há muito tempo ao Pai Natal.

_ Antes de te dizer - olhavas ora para mim, ora para a folha de papel com os resultados - tens de cumprir aquilo que combinámos há uns dias. Lembras-te? 

O brilho nos nossos olhos denunciou algo maior e mais forte que o filho da puta do coronavírus. As borboletas dançaram na minha barriga e relembrei a conversa que tivéramos, numa das noites mais tranquilas que por ali passei. Prometemos um ao outro que quando eu saísse dali, poderíamos dar asas à nossa paixão que nascera entre luvas, máscaras, bips sonoros indicadores de insuficiências respiratórias e medo, muito medo. 

Eu tinha medo também por ti pois lidavas de perto com todos estes infetados, lidavas diariamente com a morte e não paravas de pensar nos outros e ajudar. Afinal de contas é a tua profissão, mas não era permitido que os sentimentos amorosos surgissem e crescessem entre nós. Ambos sabíamos isso, no entanto, todas as manhãs sussurrávamos o sonho que tivéramos, os planos que fazíamos, as vontades que tínhamos em nos encontrarmos fora dali. Hoje era esse dia! Não quebráramos o código deontológico. Pelo menos até agora. 

_ Claro que me lembro Ricardo, o plano está mais do que delineado. Espero por ti na minha casa, assim que acabares o teu turno. Combinado? É hoje, não é? - quase que saltava da cama e me atirava aos teus braços tal era a excitação. A excitação de saber que estava curada, mas muito mais por saber que hoje ia dar a maior queca da minha vida. Contigo! Por baixo da tua bata azul clarinha também via a tua excitacão, insubordinadamente mostrando-se e violando o código deontológico.

_ Alexia, as tuas análises dizem que estás curada. Meu amor, vais ter alta ainda hoje, quando o médico... - Nem deixei que acabasses a frase. Abracei-te, com força! Puxei-te para mim e antes que me dissesses alguma coisa, sussurrei-te ao ouvido: 

_Obrigada, foste o meu anjo protetor. Adoro-te!
_ Miúda, olha as pessoas. - Soltaste-te com carinho mas, olhando em redor percebemos que ninguém estaria interessado na nossa conversa. Piscaste-me o olho, baixaste a máscara e, sem eu estar à espera senti os teus lábios nos meus. Primeiro ansiosos e trémulos, mas logo se desinibiram e em poucos segundos a tua língua conheceu a minha e ambas lutaram pelo seu lugar na boca alheia. 

Era o nosso primeiro contacto. O nosso primeiro beijo. Gememos baixinho e senti que não conseguiríamos esperar por logo à noite, lá em casa. Sem grandes movimentos bruscos, e sem nunca descolar os lábios dos teus sentei-me na cama, de pernas para fora da cama e aproveitei o facto de, por baixo da bata não ter roupa nenhuma... Abri as pernas e, a tua cintura ficava exatamente à altura certa. 

_ Alexia, és muito doida! - Disseste-me enquanto olhavas em redor. Era hora de almoço e o risco que corríamos era pequeno. Todos os outros doentes descansavam e os médicos e demais pessoal almoçavam rapidamente, portanto não teríamos muito tempo para pôr em prática aquela cena perigosa de filme de 2ªcategoria.

_ Anda, diz-me que não queres e eu paro já. - enquanto te digo isto afago o teu membro ereto que pede liberdade daquela roupas protetoras. Mordi o lábio inferior, peguei na tua mão, tirei a luva de borracha e atirei-a para o chão, comigo não ias precisar de luvas, levei-a até mim onde pudeste comprovar como eu estava húmida e pronta para uma rapidinha, perigosa mas tão apetecível.

_ Estás tão... tão saudável. - Disseste enquanto percorrias os meus lábios até ao clitóris que ansiava o teu toque. Colámos de novo os lábios com mais tesão que nunca e os teus dedos, quase como se me conhecessem provocavam-se sensações indescritíveis de grande prazer. 15 dias depois de te ter visto pela primeira vez e ter tido vontade de te saltar para cima, estava a acontecer mesmo... Humm... Enquanto isso eu continuava a massajar o teu pau, que latejava de vontade de percorrer o meu caminho húmido e apertadinho.

_ Alexia, és ... um pedaço de ... mau caminho. - e sem grandes movimentações baixaste ligeiramente as calças de modo a ficar o "essencial" de fora. - Vou-me vir num instantinho. Desculpa! 

_ Não vais ser só tu! Anda, fode-me!- puxei-te para mim, mostrando que estavamos no caminho certo.

Com a mão nele guiaste-o, encostando-o mim, roçaste-o na minha cona de cima a baixo, deixando-o ainda mais húmido. Nesse momento as nossas respirações já se tornavam audíveis e a nossa racionalidade escondia-se envergonhada pois perdia esta batalha contra a tesão que se apoderara de nós. Era agora território do carnal e do irracional. Por ali reinava o prazer e quando me enterraste o membro até ficarmos de barrigas coladas, não contive o gemido que se ouviu pelo quarto todo. 

Quietos, sustivemos a respiração e após alguns segundos de silêncio, percebemos que ninguém estava preocupado com o que se passava ali naquela cama, iniciaste os movimentos lentos de anca, investidas cuidadosas mas tão objetivas. O tempo que tínhamos não era muito. Mas a excitação e vontade era imensa, gigantesca. Ambos sonhávamos com este momento, não estava nos planos ser ali, mas deixámo-nos levar e de lábios colados, tentando gravar o sabor um do outro, tentando perpetuar aquele gosto de beijo cheio de sentimento, continuavas a penetrar-me a um ritmo cada vez mais rápido.

_ Humm, Ricardoooo, fode-meee - disse-te baixinho e percebeste que eu estaria prestes a atingir um orgasmo. Também tu estavas quase e não foram necessários mais do que três ou quatro penetrações rápidas e brutas para que ambos, num silêncio prazeroso, atingíssemos um orgasmo viral, apoteótico e indescritível. 

Entre risos parvos e beijos rápidos lá nos recompusemos e certificámo-nos que não tínhamos sido apanhados por ninguém, quando, exatamente no momento em que eu me recostava de novo na cama entrou o médico de serviço e se dirigiu a nós. Com um olhar perplexo olhou para nós e perguntou-nos:

_ O que se passa com vocês? Há alguma novidade? - pegou na folha das minhas análises e sorriu com os olhos. - Parabéns Alexia! Vai ainda hoje para casa. Era por isso que estavam ambos tão contentes! - olhou para nós uma última vez e, já de costas e enquanto se dirigia para a porta disse: - Ricardo, da próxima vez volte a colocar a máscara e uma luva limpa. Não corra riscos! Volto já, vou buscar o papel da alta da Alexia!

Olhámos um para outro e, entre sorrisos parvos de adolescentes apaixonados nos despedimos com um "Até logo!"