sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A viagem



Gosto de me sentar no comboio e observar os passageiros que se sentam por perto. Há uns que são reincidentes. Regressam a casa à sexta-feira e levam um sorriso enorme na face e inúmeros planos para o fim-de-semana. A senhora com cerca de 50 anos aproveita para corrigir testes e fichas. Professora de matemática, que possivelmente trocou, no início de Setembro, o marido e os filhos pela carreira profissional. Os dois irmãos gémeos, universitários que levam sempre, duas enormes mochilas, possivelmente cheias de roupa suja para lavarem em casa. Imagino as aventuras que têm vivido na capital e que não contam lá em casa... Enfim, são personagens fáceis de ler. Mas não tu! Tu eras muito enigmático. Pelo menos há dois meses que partilhávamos a mesma carruagem, com destino ao Porto e apenas trocámos olhares. Olhares curiosos, provocantes e misteriosos. Finalmente, hoje iniciaste a conversa... E eu mordi o isco. "Fim-de-semana grande, não é?" Estávamos pela primeira vez sentados lado a lado, mas não nos tocávamos .                       
Os bancos tinham a largura suficiente para manter uma distância de segurança, mas ao longo da viagem, a conversa foi ficando mais animada e interessante. Os bancos, como que por magia, diminuíram de tamanho e aos poucos fomos iniciando os toques casuais. A minha perna na tua. O meu braço no teu. Por vezes senti arrepios...Trabalhavas em Lisboa mas moravas no Porto. Eu estava a fazer uma formação profissional na invicta e este seria o último fim-de-semana em que faria aquela viagem. Ao ouvires esta informação permaneceste em silêncio por longos minutos. De olhar perdido, olhando a paisagem que fugia a grande velocidade, murmuraste "É pena..." compreendi perfeitamente o teu sentimento. Coloquei a mão na tua perna e disse-te "Eu também já me tinha habituado às "nossas" viagens. Mas não tem problema. Voltaremos a ver-nos, não há como fugir do destino..." Colocaste a tua mão na minha e, carinhosamente entrelaçámos os dedos. Quem nos visse naquele momento diria que éramos namorados de longa data. As minhas borboletas na barriga, iniciaram aquele bater de asas parvo, e posso jurar que me elevaram do assento do comboio, uns dois milímetros. Mantivémos o silêncio. Era a nossa última viagem, mas damn, era também a primeira. Quebraste o silêncio com a pergunta que não esperava ouvir "Acreditas em paixão à primeira vista?“ Os teus olhos brilhavam e neles vi o reflexo do brilho dos meus. 

Nem te respondi porque os teus lábios mergulharam nos meus, num beijo arrebatador e sensual. 
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O furacão provocado pelas borboletas passou para segundo plano e todos os meus sentidos passaram a estar concentrados em ti. A tua mão na minha nuca. O teu cheiro a banho tomado há pouco. O teu sabor agridoce. A maciez da tua língua na minha. O beijo prolongou-se. Nenhum de nós queria terminar. Perdi a noção do tempo e do espaço. Os pensamentos deixaram de surgir na minha mente que normalmente é tão confusa e atribulada. Naquele momento eu só senti. Só te senti. E se me pareceu um beijo longo e demorado, assim que terminou já eu tinha sede de mais beijos. Já eu ansiava pelo próximo toque meigo dos teus lábios nos meus. 

O beijo terminou mas continuámos a milímetros um do outro.Passei a língua pelos meus lábios molhados com sabor a ti. Sorri como uma miúda tola que acabou de ser beijada pela primeira vez. Abanaste ligeiramente a cabeça, sorriste e disseste "Nem imaginas como eu sonhava com este beijo... Nem imaginas as noites mal dormidas contigo a surgir-me à frente.... Alexia, não sei o que foi isto, mas os teus lábios sabem a mel e gelado de canela... Não sei porque deixámos para hoje..." Eu continuava a não pensar. Tomaste as rédeas do momento e eu apenas me deixei levar na tua sedução. Tu conseguiste deixar-me sem palavras. Eu sorria. Por dentro um turbilhão de sensações afunilavam-se a caminho dos terminais nervosos da pele. O meu coração ouvia-se na carruagem seguinte. As minhas faces rosadas denunciavam a velocidade vertiginosa a que viajava o sangue impulsionado pelo coração descontrolado.    

Abraçaste-me com força. Não largaste. Encostada ao teu peito senti que aquele era o melhor lugar do mundo para se estar. Senti-me em casa. Aninhei-me a ti. Enrosquei-me no teu colo doce e quente e forte e protetor. Ouvi o teu coração a retomar à calma. Passavas a mão pelos meus cabelos. E eu tocava-te, com a ponta dos dedos, no peito. Não falámos muito mais... Que estranho. O resto da viagem foi feita ao teu colo entre beijos apaixonados, olhares silenciosos e abraços apertados. Não gosto de me apaixonar, porque fico tola, sem reação, sem saber o que dizer. Eu gosto tanto de os ter na mão... Mas contigo foi diferente. A Alexia baixou a guarda. Despiu o colete à prova de bala. Descarregou a arma. Tirou a máscara de ferro. Desceu do pedestal. Toda a escola de sexo que tenho, naquele momento não foi necessária. Não senti necessidade de verificar o tamanho do teu sexo. Não te disse que estava a ficar com as  cuecas molhadas...Todas as aprendizagens no jogo de sedução que fiz ao longo dos anos não foram necessárias. Todas as posições sensuais que deixam os homens acesos, foram esquecidas. Todos os trocadilhos porcos que aprendi com os gajos da minha vida, ficaram na gaveta com vergonha de sujar o momento. E que momento... Antes de terminar a viagem trocámos números de telefone e deste-me um carinhoso beijo na testa. Respeito! 
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Sabíamos que aquele momento poderia ser o início de uma grande paixão... Mas e as paixões... Duram para sempre?  Duram o que têm de durar! Dura o tempo que  as borboletas na barriga quiserem. 

Agora, deitada na cama anseio pelo nosso próximo encontro. O coração volta a bater desenfreado... Mas depressa adormeço e sonho com comboios. Sonho contigo, com o teu beijo, com o teu colo...